INCLUSÂO
SOCIAL E ESPIRITUAL NA IGREJA
Rev.
Kleiber Almeida Morais[*]
“Meus irmãos, não tenhais a
fé em nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória, em acepção de pessoas...” (Tg 2:1-13)
“Nunca na História
desse País...”. Esta frase tornou-se célebre através da boca do ex-presidente
da República Luís Inácio Lula da Silva. Em vários de seus discursos o
presidente a empregou como jargão para enfatizar “suas conquistas”. Tomo aqui a
liberdade de fazer uso de tão presidenciável
frase com o propósito de aplicá-la ao contexto de nossas igrejas
evangélicas brasileiras no que tange a um assunto ainda tão pouco “lembrado”.
Nunca
na História desse País falou-se, discutiu-se e debateu-se tanto
como agora a respeito da acessibilidade e da inclusão social. Segundo o IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) existem hoje no Brasil cerca
de vinte e quatro milhões e seiscentas mil pessoas portadoras de deficiências.
Dentre estas, mais de nove milhões são portadoras de algum tipo de deficiência
física. Para que fique mais claro, isto corresponde a mais de sete vezes o
número de habitantes da nossa capital, Goiânia.
Por mais que os dados pareçam nos assustar, o ponto
positivo é que Nunca na História desse
País cobraram-se tantos investimentos na área da educação, transporte
público, esporte e lazer, com o propósito de inclusão social e o direito de ir
e vir por parte das assim denominadas pela sociedade “pessoas especiais”. E,
por mais que muitas dessas reivindicações já tenham sido atendidas, a verdade é
que ainda estamos bem distantes de um modelo ideal de sociedade inclusivista.
Tão ou mais preocupante que a abertura social para os
deficientes físicos, é a abertura espiritual que se tem dado a eles. Basta
olhar ao redor e logo perceberemos em quão despreparada realidade estão
inseridas as nossas igrejas. A começar pelas estruturas e arquiteturas de
nossos templos, passando por pessoal (in)capacitado e chegando até o próprio
interesse dos líderes, não seria mera falácia aplicarmos veementemente a
primeira parte do capítulo dois de Tiago ao contexto evangélico pós-moderno.
Uma vez que, sem dúvida, esse (des)preparo e este (des)interesse de nossas
igrejas não nos apontam outra coisa senão o grande erro da ACEPÇÃO.
Obviamente Tiago está tratando naquele contexto quanto à
deferência aos ricos e a indiferença para com os pobres. O que também na
verdade não deixa de ser um problema social. Contudo, a aplicação deste ensino
reflete diretamente na questão aqui discutida, pois a recomendação do apóstolo
em não se fazer acepção implicava justamente em que os cristãos não deveriam
formar os seus (pré)conceitos baseados apenas em exterioridades. O ponto alto
aqui então, fica justamente com a seguinte questão: A quem nossas igrejas visam
alcançar? Quem merece ouvir e freqüentar nossos cultos? A que público alvo
nossos templos são projetados para receber? O que querem dizer alguns cristãos
quando expressam interesse em se construir uma sociedade “forte” e “sadia”? Que
programações nossas igrejas oferecem às pessoas que estão dentro e fora delas?
A bem da verdade precisamos ser honestos conosco mesmos,
pois por mais que tenhamos desempenhado com fidelidade o nosso “Ide”, Nunca na História das igrejas
evangélicas desse País foi tão
necessário, como agora, reconhecermos que temos esquecido que essas “pessoas
especiais” também necessitam ouvir a respeito da salvação, não só para
recebê-la, mas também para desenvolvê-la com temor e tremor. Portanto,
precisamos rever os nossos conceitos. O próprio Tiago é quem também diz: “Pois qualquer que guarda toda a lei, mas
tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos” (v.10).
O investimento em projetos sociais / evangelísticos com o
propósito de alcançar, discipular e enviar deficientes físicos, alterando a
própria estrutura física da maioria de nossos templos com a implantação de
rampas e corrimãos, treinamento de pessoal e aquisição de materiais (como curso
de libras ou como a Bíblia em braile, por exemplo) não só traria nova vida e
motivação à igreja, como também tiraria de nossos ombros o preconceituoso
pecado da acepção.
Devemos nos lembrar que a porta do Céu é estreita, mas
sem dúvida, ACESSÍVEL a todos os que n´Ele crêem. E para que possam crer não
poderão ser “esquecidos"!
[*] O
autor do presente artigo é Pastor titular na Segunda Igreja Presbiteriana de
Goiânia; Graduado em História pela Universidade Estadual de Goiás; Especialista
em Bíblia (teologia bíblica) pela Universidade Mackenzie e Bacharel em Teologia
pelo Seminário Presbiteriano Brasil Central.
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