Brasil
Presbiteriano
O primeiro culto Protestante no Brasil
HISTÓRICO
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Há 455 anos os presbiterianos realizam
o primeiro culto protestante em solo
brasileiro. O evento aconteceu em uma
colônia fundada pelos franceses na baía
de Guanabara.
Alderi Souza de Matos
Cabe aos presbiterianos a honra de terem
realizado o primeiro culto
evangélico na história do
Brasil e das Américas.
Esse evento singular ocorreu há 455 anos em uma
pequena colônia fundada
pelos franceses na baía de
Guanabara.
Após o descobrimento do
Brasil, Portugal demorou
a interessar-se pela ocupação e a colonização dos
novos domínios. Com
isso, a colônia atraiu a
atenção de outras nações
europeias, especialmente a
França. Após a experiência
mal sucedida das capitanias hereditárias e as constantes incursões estrangeiras, Portugal resolveu
tomar providências concretas. Em 1549 enviou
o primeiro governador geral do Brasil, Tomé de
Souza, que se instalou em
Salvador. Todavia, o controle da imensa costa era
ainda muito limitado. Foi
nesse contexto que o militar e aventureiro Nicolas
Durand de Villegaignon
teve a ideia de fundar uma
colônia numa região bem
conhecida dos franceses: a
baía de Guanabara.
Villegaignon aproximou-se do vice-almirante
Gaspard de Coligny, um
dos principais conselheiros
do reino, que nutria fortes
simpatias pela Reforma.
Com isso, conseguiu o
apoio do rei Henrique II
(1547-1559), que lhe forneceu dois navios aparelhados e recursos para a
viagem. A expedição chegou à Guanabara no dia
10 de novembro de 1555,
sendo bem recebida pelos
índios tupinambás, acostumados à presença de franceses na região. O grupo
instalou-se na pequena
ilha de Serigipe, mais tarde
denominada Villegaignon,
onde foi construído o Forte
Coligny.
A VINDA DOS
REFORMADOS
Diante de várias dificuldades surgidas,
Villegaignon escreveu
à Igreja Reformada de
Genebra solicitando o
envio de pastores e colonos evangélicos que contribuíssem para a elevação
do nível moral e espiritual
da colônia. Coligny convidou para liderar o grupo
um ex-vizinho seu, Filipe
de Corguilleray, conhecido
como senhor Du Pont. Por
sua vez, João Calvino e
seus colegas alegremente
escolheram para acompanhar os colonos os pastores
Pierre Richier (50 anos)
e Guillaume Chartier (30
anos). Os seus objetivos
específicos eram implantar a fé reformada entre os
franceses e evangelizar os
indígenas.
Os huguenotes que os
acompanharam foram
Pierre Bourdon, Matthieu
Verneil, Jean du Bourdel,
André Lafon, Nicolas
Denis, Jean Gardien,
Martin David, Nicolas
Raviquet, Nicolas Carmeau, Jacques Rousseau
e o sapateiro Jean de Léry,
o cronista da viagem, que
escreveria a obra Viagem à
Terra do Brasil (publicada
em 1578). Eram ao todo
catorze pessoas. No dia 19
de novembro embarcaram
para o Brasil no porto de
Honfleur, na Normandia.
A frota de três navios,
comandada por Bois
Le Conte, sobrinho de
Villegaignon, levava cerca
de 290 pessoas, inclusive
algumas mulheres. Como
de costume, a viagem foi
muito penosa. A certa altura, diante da situação em
que se achavam, os reformados recitaram o salmo
107 (ver os v. 23-30). No
dia 7 de março de 1557, os
viajantes finalmente entraram no “braço de mar”
chamado Guanabara pelos
selvagens e Rio de Janeiro
pelos portugueses.
O PRIMEIRO CULTO
O desembarque no forte
Coligny deu-se no dia 10
de março, uma quarta-feira. O vice-almirante recebeu o grupo afetuosamente e demonstrou alegria
porque vinham estabelecer uma igreja reformada.
Logo em seguida, reunidos todos em uma pequena sala no centro da ilha,
foi realizado um culto de
ação de graças, o primeiro
culto protestante ocorrido nas Américas, o Novo
Mundo.
O ministro Richier orou
invocando a Deus. Em
seguida foi cantado em
uníssono, segundo o costume de Genebra, o salmo
5: “Dá ouvidos, Senhor, às
minhas palavras”.
Em seguida, o pastor
Richier pregou um sermão com base no salmo
27:4: “Uma coisa peço ao
Senhor e a buscarei: que
eu possa morar na casa do
Senhor todos os dias da
minha vida, para contemplar a beleza do Senhor e
meditar no seu templo”.
Após o culto, os huguenotes tiveram sua primeira
refeição brasileira: farinha de mandioca, peixe
moqueado e raízes assadas
no borralho. Dormiram em
redes, à maneira indígena.
A Santa Ceia segundo o
rito reformado foi celebrada pela primeira vez
no domingo 21 de março
de 1557.
Infelizmente, o vice-almirante acabou entrando em conflito com os
huguenotes sobre questões
doutrinárias e os expulsou
da colônia. Em 4 de janeiro de 1558, eles partiram
para a França a bordo de
um velho navio. O comandante avisou que a viagem
iria ser difícil e não haveria alimento para todos.
Diante disso, cinco huguenotes se ofereceram para
voltar à terra. Inicialmente
Villegaignon os recebeu de
modo cordial, mas logo os
acusou de serem traidores
e espiões. Formulou um
questionário sobre pontos
doutrinários e lhes deu
doze horas para responderem por escrito. O resultado foi a bela Confissão
de Fé da Guanabara ou
Confissão Fluminense
[Publicada pela Cultura
Cristã em A Tragédia da
Guanabara) .
O almirante declarou
heréticos vários artigos
e decidiu pela morte dos
reformados.
Essa efêmera presen-
ça calvinista no início
da história do Brasil não
produziu efeitos permanentes. Não foi possível
aos reformados alcançar
seus dois intentos principais: criar uma igreja
reformada e evangelizar
os nativos. Todavia, esse
episódio é considerado um
marco significativo na história das missões cristãs,
pois foi a primeira vez
que os protestantes buscaram anunciar a sua fé a
um povo pagão. O fruto
mais duradouro do singelo
empreendimento foi a bela
confissão de fé selada com
sangue. (fonte: Jornal: Brasil Presbiteriano, março 2012, pag. 9, Alderi Souza de Matos).
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